Trabalho e renda familiar andam juntos

Em palestra no Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho, a Diretora do Escritório da OIT no Brasil, Laís Abramo, ressaltou o trabalho como motor da inclusão social

News | 30 October 2013
CURITIBA (Notícias da OIT) - O trabalho é um dos principais vínculos entre o desenvolvimento econômico e o social, uma vez que representa um dos mecanismos por intermédio dos quais os seus benefícios podem efetivamente chegar às pessoas e, portanto, serem melhor distribuídos. A prova disso é que atualmente no Brasil 77% da renda das famílias advêm do trabalho.
A afirmação foi feita pela Diretora do Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Laís Abramo, durante palestra no XIII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET), realizado nesta cidade. O evento é realizado a cada dois anos e conta com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros. O tema deste ano é “Trabalho, Desenvolvimento e Sociedade no contexto da crise global”.
Em sua palestra “Trabalho e Inclusão Social: o compromisso nacional com a promoção do Trabalho Decente”, Laís Abramo também ressaltou a importância do trabalho na composição da renda das famílias em situação de pobreza (rendimento familiar per capita de até ¼ do salário mínimo). De acordo com dados da PNAD 2012, o trabalho representa 62% dos rendimentos destas família e o restante de aposentadorias e pensões e outras fontes.
Laís Abramo acrescentou, no entanto, que não é qualquer tipo de trabalho que garante às pessoas o acesso a uma vida digna e a justa participação nos frutos do desenvolvimento econômico. Para que isso aconteça é necessário que esse trabalho seja exercido em determinadas condições e que seja Trabalho Decente.
Isto é, além de uma remuneração adequada, o conceito de trabalho decente supõe também o acesso aos direitos associados ao trabalho e à proteção social e, quando combinado com aumentos de produtividade e igualdade de oportunidades e de tratamento no emprego, tem o potencial de diminuir exponencialmente a extrema pobreza e a fome por meio do aumento e melhor distribuição da renda.
“Todas as pessoas que trabalham têm direitos – assim como níveis mínimos de remuneração, proteção e condições de trabalho - que devem ser respeitados”, disse a Diretora da OIT no Brasil.
Para a Diretora da OIT no Brasil, a redução da pobreza e da desigualdade social no país no período recente foi resultado de políticas de caráter redistributivo que tinham (e têm) como objetivo incluir, não apenas no mercado de consumo, mas também no mercado de trabalho, e nas condições de exercício da cidadania, grandes parcelas da população brasileira que estavam até então excluídas de todas essas dimensões da vida social e produtiva.
E nisso desempenharam um papel fundamental, de um lado, os programas de transferência de renda – o Bolsa Família e a extensão da proteção social. Por outro lado, fatores diretamente relacionados a um processo de reestruturação do mercado de trabalho (invertendo aqui também as tendências que marcaram os anos 90 e começo dos anos 2000, de aumento do desemprego, da informalidade e dos processos de precarização do trabalho): o aumento do emprego e, em especial, do emprego formal e a valorização do salário mínimo, disse.
Laís Abramo também abordou, entre outros, o tema trabalho, vida pessoal e familiar e como isso pode influenciar as diferenças de tratamento e igualdade de gênero no mercado laboral. Ainda de acordo com dados da PNAD, a jornada de trabalho dos homens é de 42,5 horas semanais, enquanto a das mulheres chega a 36,2 horas semanais. No entanto, os homens dedicam apenas 10,3 horas semanais aos afazeres domésticos, e as mulheres, 22,3. Resultado: a jornada de trabalho das mulheres chega a 58,5 horas semanais, e a dos homens a 52,7 horas.