Cooperação Sul-Sul

Observa Censo: cooperação com países em desenvolvimento promove compartilhamento de boas práticas sobre o Censo 2022

Seminário no Rio de Janeiro encerrou a missão com observadores internacionais de 18 países da América Latina, Caribe e África.

Notícias | 7 de Outubro de 2022
Participantes do seminário final da missão Observa Censo 2022. Foto: ©Licia Rubinstein / Agência IBGE Notícias

Rio de Janeiro – O ano de 2022 marca a realização de mais um Censo Demográfico no país, o que atrai um grande interesse internacional em conhecer a experiência brasileira. Para esta edição do Censo, com o objetivo de compartilhar metodologias, experiências e tecnologias para a coleta de dados estatísticos populacionais, o Brasil recebeu a visita de um grupo de observadores internacionais de 18 países da América Latina, Caribe e África, que participaram do Observa Censo – uma visita de estudos ao Brasil, de especialistas estrangeiros em censos populacionais.

A vinda dos observadores internacionais é resultado de uma parceria do IBGE com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. A participação da OIT no Observa Censo 2022 ocorre no âmbito do Programa de Cooperação Sul-Sul, que é uma parceria do Brasil, representado pela ABC, com o Escritório da OIT no Brasil. Representantes dos institutos de estatística das Bahamas e de Trinidad e Tobago participaram da visita técnica a convite da OIT.

O Observa Censo contou inicialmente com duas etapas virtuais. De 19 a 23 de setembro, durante a uma segunda fase, houve visitas de campo, quando os visitantes estrangeiros, divididos em grupos,
visitaram Recife (PE), Belo Horizonte (MG), Cabo Frio (RJ) e Florianópolis (SC). Já os representantes dos organismos internacionais estiveram em Boa Vista e Pacaraima (RR).

A missão foi concluída no dia 26 de setembro, no Rio de Janeiro, com a realização de um seminário de compartilhamento de resultados e indicação de boas práticas. 

Embaixador Ruy Pereira, diretor da ABC​​, fala durante seminário final do Observa Censo 2022. ​​​​​Foto: ©Licia Rubinstein / Agência IBGE Notícias

Na abertura do evento, o embaixador Ruy Pereira, diretor da ABC, destacou os esforços do Brasil em promover o acesso a tecnologias que possam ser replicadas por outros países, como é o caso do Censo brasileiro.

“No espírito da Cooperação Sul-Sul trilateral, essa atividade é transformadora, não só para os países visitantes, mas também para nós. Muitas das soluções para os desafios do desenvolvimento sustentável requerem sinergias. Conhecer melhor a população e suas especificidades, características e expectativas é fundamental para que possamos aprimorar as políticas. E esta ambiciosa e inovadora iniciativa, com a visita de especialistas internacionais, demonstra o potencial do IBGE no protagonismo desta ação”, disse o embaixador.

O Brasil é referência global na realização de recenseamentos populacionais. Segundo a representante do UNFPA no Brasil, Astrid Bant, é estratégico compartilhar essas experiências com países em desenvolvimento que vivenciam desafios similares.

“O evento de hoje marca mais uma iniciativa na qual o IBGE compartilha seu instrumental técnico, científico e metodológico com os institutos de diversos países. Essa horizontalidade é uma característica primordial de um bom processo de Cooperação Sul-Sul, que coincide com nosso objetivo global de erradicar três zeros até 2030: zero necessidades não atendidas de contracepção, zero mortes maternas evitáveis e zero violências e outras práticas nocivas contra mulheres e meninas”, declarou a representante do UNFPA no Brasil.

Para a edição do Censo 2022 foram implementadas melhorias e inovações tecnológicas, tais como a possibilidade de acompanhamento em tempo real de informações relativas ao andamento da coleta de dados por parte de supervisores. Isso inclui dados operacionais tais como o volume de transmissões de questionários, os trajetos percorridos pelos recenseadores e as coordenadas geográficas registradas, mas também informações prévias relativas à distribuição de sexo e idade da população entre outras informações.

“Estamos aprendendo e inovando neste acompanhamento. Somos capazes de fazer ajustes reais na operação, que em outras edições não teríamos tempo hábil de corrigir. Além disso, houve uma ousadia do IBGE de se permitir ser observado e avaliado, em tempo real, no meio da operação. Hoje a transferência de dados é imediata e o feedback de gestão é muito maior”, explicou Eduardo Rio Neto, presidente do Instituto.

Perfil populacional para políticas públicas

Para Leonardo Sultani, secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital da Economia, do Ministério da Economia, conhecer as características totais de uma população é um elemento imprescindível para a definição das políticas públicas.

“O uso de dados do censo promove essa proximidade com a população. Todos os avanços desta edição do censo nos abrem perspectivas para o futuro, de modo que as tecnologias subsidiem ainda mais o trabalho do IBGE”, destaca o secretário. O tema também foi celebrado por Rogério Borelli, assessor especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia. Para ele, aliar a tecnologia ao processo do censo permite chegar a lugares de difícil acesso e atender a toda a população, sistematizando em tempo real as lições aprendidas e tornando o processo cada vez melhor.

O diretor do Escritório da OIT no Brasil, Martin Hahn, destaca a cooperação técnica de longa data do IBGE e a OIT para ampliar a base de conhecimento sobre trabalho decente no Brasil.

A cooperação técnica consolidada entre o IBGE e a OIT tem, ao longo dos anos, permitido ampliar a base de conhecimento sobre trabalho decente no Brasil e também servir de exemplo para muitos outros Estados membros da OIT. Os dados extraídos do censo, por exemplo, permitem ainda ampliar a base de conhecimento sobre a força de trabalho no país, conforme ressaltou o diretor do Escritório da OIT no Brasil, Martin Hahn.

“A OIT se orgulha do trabalho conjunto com o IBGE, o censo 2022 é uma oportunidade única para a Cooperação Sul-Sul, com dados que apoiam as políticas públicas em diversas áreas, inclusive sobre trabalho decente. No último censo, por exemplo, realizamos uma experiência pioneira em solo nacional com a compilação de dados sobre trabalho decente. Esses indicadores são fundamentais para subsidiar o processo de construção das políticas, muitas delas são a base do nosso programa de país”, comenta Martin.

A programação do seminário contou com uma apresentação da OIT sobre a importância do uso do censo nas políticas de prevenção e erradicação do trabalho infantil no Brasil, que ressaltou a importância de coleta de dados e a produção de indicadores em grande escala que subsidiam a construção de políticas na área. Jose Ribeiro, Coordenador da Área de Geração de Conhecimento para Políticas de Trabalho Decente, e Natanael Lopes, Oficial Nacional do Programa de Cooperação Sul-Sul Brasil-OIT, que falaram o uso de dados para informar políticas públicas, incluindo a Cooperação Sul-Sul e Trilateral.

Inovações para o censo 2022

A previsão para o censo 2022 é calcular 213 milhões de pessoas, a partir da estimativa de visitas em 75 milhões de domicílios. Com a inovação de monitoramento em tempo real, durante o seminário, foi apresentado o dado de 45% da população brasileira recenseada, um total de 96.013.184 milhões de pessoas, a partir da visita em 65% do total estimado de domicílios, resultando 52% de mulheres e 48% de homens mapeados. Atualmente, a coleta de dados está mais avançada nos estados do nordeste, precisamente nos estados do Piauí e Sergipe, devido ao alto número de recenseadores atuando no campo.

Durante o seminário, o IBGE destacou ainda a parceria com o Hub Regional da ONU para Big Data no Brasil, que contribui no melhoramento das estatísticas oficiais, na ciência de dados, rede de cartografia e imagens de satélite. Outro destaque está no mapeamento das populações indígenas e quilombolas. Até o momento, aproximadamente 700 mil quilombolas e 800 mil indígenas já foram recenseados.

Cooperação, aprendizado e boas práticas

O Observa Censo possibilitou a cooperação e o intercâmbio de especialistas e representantes de organizações internacionais de 25 países. Na etapa presencial, 18 países realizaram visitas em campo e acompanharam a atuação de recenseadores e supervisores. Nas visitas, os observadores internacionais puderam ver a linha de frente da coleta de dados e sobre como é feita a operação demográfica na prática.

O Observa Censo contou, ainda, com visitas e experiência em campo com populações indígenas, populações migrantes e refugiados, ambas na região norte do país nas cidades de Boa Vista e Pacaraima, desenvolvidas com a participação da Organização Internacional para as Migrações (OIM), do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), além do UNFPA.

Com informações do UNFPA